Arquivo diário: julho 17, 2013

A vocação de João. Um exemplo, sinônimo de paz e fraternidade, que se sente feliz em fazer o bem e pregar a igualdade.

ImagemHolandês por naturalidade, agrônomo por formação e padre por vocação. Assim, se configura a imagem do nobre João Jorge Rietveld, que comanda a paróquia de Juazeirinho e de algumas cidades vizinhas. Nascido na pacata cidade de Geldrop, no Sul da Holanda, o menino João teve uma infância semelhante à maioria de crianças da região, mas uma coisa lhe diferenciava: a paixão pela igreja.

Filho mais velho de uma família de oito, de pais católicos fervorosos, que por total inspiração bíblica, lhe deram o nome de João, em homenagem ao evangelista. Seu para era um importante engenheiro da empresa Philips e sua mãe, uma tradicional dona de casa. A família habitava uma chácara, localizada no interior de Geldrop, numa região calma e que tinha a igreja como ponto central.

Era lá onde o astuto menino passava maior parte do dia, participando dos trabalhos, pelo mais simples e singelo prazer de servir a comunidade e a cristandade. Ainda pequeno, descobriu outras paixões: as plantas e os animais. O prazer em lidar com essas espécies, logo evidenciava que este, seria futuramente, um dos campos de atuação de Rietveld.

Com o desenrolar dos anos, o garoto que se formava não tinha nenhuma pretensão em seguir a profissão do pai, apesar das investidas dele. Mesmo pertencendo a uma família rica, João decidiu procurar fazendas na zona rural para trabalhar. Ali ele teria a oportunidade de mexer com a terra, cultivar plantas e cuidar de animais. Essas atividades lhe contagiavam e davam o fôlego necessário para que continuasse persistindo no sonho de ser um agrônomo.

Desde criança, Rietveld sempre demonstrou que sonhar fundamental e que a realização era plenamente possível. As onze anos de idade, tomou uma decisão que impactou seu pai: entrar para o seminário para a posteriori, seguir o celibato. Mesmo o pai sendo católico, não admitia que o filho, ainda criança, tomasse uma decisão tão radical. “Meu pai esperava que eu fosse um rapaz comum, que fosse praticante da igreja, mas que namorasse, cassasse , construísse uma família”, conta.

Mesmo diante da reação contrária do patriarca, João seguiu com obstinação em busca de seus ideais. Para tirar a ideia da cabeça do filho, o pai lhe matriculou em uma escola onde estudavam meninos e meninas, mesmo existindo na cidade, escolas destinadas apenas do sexo masculino. A intenção era que o primogênito arrumasse uma namorada e esquece o propósito seminarista. Muito cedo, logo aos 17 anos, ainda adolescente, concluiu o colegial e percebeu que era a hora de decidir o que fazer da vida. Procurou um padre que era diretor de um rupo de apoio a projetos estrangeiros para pedir orientações. “Ai ele me disse que eu teria duas opções: Medicina e agricultura. É melhor dá de comer do que curar. Então essa colocação dele me fez enxergar o que de fato eu deveria fazer”, lembra.

A orientação do padre fez com que João Jorge Rietveld decidisse entrar para faculdade de Agronomia e para se dedicar ao curso, ele teve que adiar o sonho do celibato. Ao terminar o curso, o então bacharel, foi estagiar na Etiópia, no continente africano. Ele nem imaginava que a viagem iria reacender a chama do desejo pelo celibato novamente.

A chegada à ao país africano se deu por intermédio da igreja, que desenvolvia um projeto com os sem terras. Esta circunstância foi determinante para que João pudesse integrar seus dois grandes sonhos: a agronomia e igreja.

O trabalho pastoral desenvolvido na comunidade etíope o impressionou e logo, ele resolveu se engajar no projeto. Para ele, era só felicidade, já seu pai, mandou-lhe buscar, alegando que ‘bacharelado não era estudo’ e que ele deveria voltar à Holanda e fazer um mestrado.

Obediente ao pai, ele o atendeu e voltou ao país de origem, onde ingressou em um curso de mestrado em Agronomia tropical. Anos mais tarde, ele Revel se ofereceu a igreja para voltar à Etiópia, mas o regime política do país havia mudado e o atual não permitia a entrada de estrangeiros.

Desta vez, um novo lugar, entraria para se tornar cenário de sua vida: o Brasil. O jovem agrônomo veio para o Brasil carregado de malas e sonhos. Além disso, ele trazia consigo uma missão da igreja, que era transmitir a teologia para os índios do interior do Estado do Amazonas, no Norte do país. “Mas eu mesmo não gostei não. Eu fiz Agronomia para o semiárido e no Amazonas não tinha”, enfatizou.

Depois de cumprir sua tarefa, ele percebeu que a seca e o clima do Nordeste seriam propícios às suas atividades e mudou-se para Sergipe. Algum tempo depois, voltou para Holanda, onde fez mais um curso de mestrado, dessa vez, em Teologia Pastoral e após concluir, veio novamente para o Brasil, em 1986.

A cidade escolhida foi Monteiro, polo do Cariri paraibano. Chegando à cidade, ele afirma que se apresentou como agrônomo e teólogo leigo, mas a vocação celibatária ainda vagava no íntimo de seu ser. Isso chamou logo a atenção do bispo que logo decidiu ordená-lo padre. A princípio João Jorge Rietveld resistiu às investidas do reverendo, sob alegação de que teria dúvidas sobre o celibato. “O bispo me falou: tente pra ver se dar certo. Eu tentei e deu”, destacou.

Agora padre ordenado, Rietveld assumiu a paróquia do munícipio de São Sebastião do Umbuzeiro, no Cariri, onde se apaixonou e tornou-se a paixão dos fieis.

Atualmente, com 58 anos de idade e 23 de celibato, administra a paróquia de Juazeirinho, no Seridó paraibano, e também em cidades circunvizinhas. Seu carisma e sua atenção lhe rendem a admiração por onde quer que passe.

Assim, transparece a imagem de um homem que, tem opiniões e não se rende a expressá-las para o bem social. Tem ideais e luta para alcançá-los. Nasceu com uma vocação e os obstáculos que surgiram em seu trajeto, serviram de degraus para a subida ao topo. A vida tratou de traçar seus caminhos e ele soube com primazia aproveitar as oportunidades.

Um exemplo, sinônimo de paz e fraternidade, que se sente feliz em fazer o bem e pregar a igualdade.

Por Daniel Mota
Juaverdade